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Educar para a sensibilidade

Educar para a sensibilidade ou educar a sensibilidade?

Sensibilidade, geralmente, está associada à arte e na, esfera do ensino, arte e educação se completam.

Se considerarmos as definições comumente encontradas nos dicionários, teremos que “arte é um fenômeno eminentemente humano, pela qual damos sentidos e significados ao mundo que nos rodeia”, enquanto “educação é a aplicação de métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano; pedagogia, didática, ensino”.

Nesse contexto, a arte e seu fazer artístico não podem ser entendidos nem limitados ao simples papel recreativo, mas devem ser compreendidos como instrumento pedagógico que viabilizam e contribuem para o desenvolvimento dos alunos, ao ampliarem seus olhares em relação ao mundo, seu potencial cognitivo, seu emocional e seus relacionamentos intra e interpessoal.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais - na proposta da área de Artes para o Ensino Fundamental - dizem que: a educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico, que caracteriza um modo particular de dar sentido às experiências das pessoas: por meio dele, o aluno amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação.

A Dra. Maria Teresa E. Mantoan (2003), afirma que, “ambientes humanos de convivência e de aprendizagem são plurais pela própria natureza e, assim sendo, a educação escolar não pode ser pensada nem realizada senão a partir da ideia de uma formação integral do aluno – segundo suas capacidades e talentos – e de um ensino participativo, solidário, acolhedor”.

Se entendermos, assim, a escola como ambiente de convivência plural e a formação integral como imprescindível para um ensino solidário e acolhedor, bem como o papel e a contribuição da arte e da sensibilidade na esfera educacional, faz-se necessário recordarmos as diferentes visões de ensino e aprendizagem que já foram percebidas, ao longo da história, a saber: (a) da cultura grega, recebemos a ênfase dada à racionalidade e, consequentemente, ao conhecimento intelectual; (b) houve, ainda, a fase de valorização da memória, conseguir memorizar dados e extensos textos, era tido como sinônimo de inteligência; (c) caminhamos depois no sentido da supervalorização da ”construção” do conhecimento e desdobramentos acarretados pelo entendimento de que a organização do pensamento, o processo cognitivo, as técnicas de transmissão de informações e o uso da tecnologia na aprendizagem eram importantes no processo de construção não apenas do conhecimento, também na construção do sujeito; para, finalmente, chegarmos a uma nova constatação: (d) é necessário educar a sensibilidade; é fundamental desenvolver a capacidade do aluno de perceber-se e perceber o outro e o mundo à sua volta.

Entre os saberes (ou inteligências) exigidos no novo milênio está a inteligência emocional. Segundo Daniel Goleman, em seu livro "Inteligência Emocional – A Teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente" (2011): as emoções (...) são importantes para a racionalidade. Na dança entre sentimento e pensamento, a faculdade emocional guia nossas decisões a cada momento, trabalhando de mãos dadas com a mente racional e capacitando — ou incapacitando — o próprio pensamento.

Ainda segundo Goleman (2011), a questão é: "como podemos levar inteligência às nossas emoções, civilidade às nossas ruas e envolvimento à nossa vida comunitária?".

O ensino de Artes, se constitui, portanto, em importante instrumento para que os alunos compreendam a si mesmos e aos outros, compreendam a sua própria realidade na expressão de seus sentimentos, emoções, desejos e projetos, contribuindo para sua autonomia pessoal e social. Contribui, ainda, para o conhecimento físico, biológico, lógico-matemático, químico, da linguagem oral, escrita, entre outros, tão necessários na idade adulta.

Essa afirmação pode ser corroborada pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que dentre as competências definidas como alvo da Educação Básica, está a de nº 4, que diz: o aluno deve utilizar diferentes linguagens, para expressar-se e partilhar informações, experiências, ideias, sentimentos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.

Ruben Alves, em seu livro “A arte de educar” (YouTube – 14-01-2012) nos diz que: "A primeira tarefa da Educação é ensinar a ver (...). A educação se divide em duas partes: educação das habilidades e educação das sensibilidades. Sem a educação das sensibilidades, todas as habilidades são tolas e sem sentido. Os conhecimentos nos dão meios para viver. A sabedoria nos dá razões para viver".

O desenvolvimento do ser integral e integralmente realizado, alvo da educação, entende que todos os aspectos constitutivos do ser humano precisam ser considerados ao se estabelecerem as áreas a serem trabalhadas nos alunos. Por isso, é importante lembrar que a educação da sensibilidade não invalida o conhecimento intelectual, as abstrações da filosofia, as relações causais da ciência, a utilidade da tecnologia, mas abre uma nova frente, um novo campo a ser explorado pelos que se dedicam à educação. Pois, nas palavras de Cristiane C. T de Almeida, in Interdisciplinaridade e o Ensino de Arte: “Arte é única e singular e está sempre carregada de significados.

A Arte não é espelho da realidade; ela é a realidade percebida de um ponto de vista diferente, ela é comunicação. A Arte pode ganhar diversos significados, nos olhos daquele que a vê. É por meio da sensibilidade e da emoção, de quem vê que se dará a percepção estética da obra”.


Profa. Débora Bueno Muniz Oliveira

Assessora pedagógica da Pró-Reitoria de Graduação

Universidade Presbiteriana Mackenzie




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